Um Brasil menor para a agricultura

Opinião: Um Brasil menor para a agricultura
Autor: Glauber Silveira

O Brasil tem tudo para produzir mais 100 milhões de toneladas de grãos nos próximos dez anos, isto significa um acréscimo no valor bruto da produção de pelo menos 35 bilhões de dólares, com a geração de milhares de empregos, claro que, se extrapolarmos o que um incremento de produção deste porte dará na economia brasileira são valores muito importantes que sem dúvida mudará a vida de milhares de brasileiros, mas para que isso venha a acontecer precisamos pensar em um Brasil maior para a agricultura e não menor.

É importante lembrar que somos o país com maior potencial mundial de terras agrícolas. Segundo informações de alguns institutos de pesquisa, temos 35 milhões de hectares de áreas já abertas que poderiam ser incorporada à agricultura, temos o maior potencial hídrico do planeta, um clima tropical extremamente propício à agricultura. Mas será o Brasil capaz de aproveitar sustentavelmente este potencial ou fará ao contrário e engessará nosso desenvolvimento?

Temos problemas estruturantes muitos sérios e que irão, no curto prazo impedir o desenvolvimento da agricultura, pois a agricultura perde US$ 4,0 bi/ano em virtude de uma logística precária e inadequada, a indústria perde R$ 17,0 bi/ano; o Brasil perde R$ 23,0 bi/ano. Um exemplo claro, hoje, a soja que sai de Lucas do Rio Verde em MT para Xangai custa 222 dólares por tonelada, com a construção da hidrovia Teles Pires/ Tapajós passaria a custar 133 dólares, isto significa 89 dólares a menos, ou seja, teríamos uma economia anual de um bilhão de dólares em frete.

O Brasil joga dinheiro fora e não é pouco. São bilhões jogados fora por falta de investimentos focados nas prioridades geradoras de superávits ao País, temos hoje um cenário de estradas e portos ruins, temos um grande desequilíbrio entre os modais. Será que seremos capazes de crescer internamente sem ter uma logística adequada ao escoamento? A nossa aptidão é felizmente a exportação, mas até quando já que legislações restritivas a produção surgem a todo tempo.

De ordem legal temos problemas sérios, tais como: legislação ambiental, demarcação de reservas indígenas, Legislação trabalhista, classificação de grãos, fiscalização de fertilizantes e exploração de jazidas, Lei de proteção de cultivares e royalties. Como podemos ver são vários os temas que precisam ser discutidos e a sociedade brasileira precisa dizer, de uma vez por todas, onde pretende chegar, que nível de vida nós queremos, para isto é importante haver um diálogo sustentável do campo e da cidade.

Segundo a Embrapa, temos em Reserva Legal, intocada, 32% do território nacional, de Unidades de conservação e terras indígenas mais 27%, sendo assim, temos 59% do Brasil protegido. As demandas que surgem e já apresentadas ao governo brasileiro para ampliação de áreas para reforma agrária, ampliação de parques florestais, de reservas indígenas e quilombolas, se somadas equivalem a 70% do território nacional. Se essas demandas forem atendidas, necessitaríamos clonar o Brasil.

O caso da ampliação das reservas indígenas é um exemplo claro, já possuem 12% do território brasileiro e querem dobrar. Não tenho nada contra os índios, muito pelo contrário, respeito e admiro muito deles, afinal tenho descendência indígena, mas não acredito que é isto que fará com que tenham dignidade e que preservem sua cultura. É preciso saber sim o que eles querem, e não o que a FUNAI quer. Hoje, os índios estão sendo massa de manobra das ONGs e de grandes multinacionais mineradoras. Mas a meu ver, e acima de tudo, é preciso ver o que o povo brasileiro quer para o Brasil.

A agricultura brasileira é um exemplo para o mundo assim como para o Brasil. Os EUA possuem 23% de suas florestas nativas, isto porque o governo americano, paga aos produtores para conservar algumas áreas que eles identificam como mais frágeis. As florestas americanas há dez anos chegavam a 30% e tem diminuído - isto ninguém fala – e o Brasil tem 56% de suas florestas nativas. Os EUA emitem 20 toneladas de carbono por habitante, enquanto no Brasil são 1,8 toneladas por habitantes. Somos, sem dúvida nenhuma, infinitamente mais sustentável.

Exemplo disso e em um momento histórico que o mundo clama por sustentabilidade, o Brasil aprovou na noite de ontem, com 274 votos a favor, o novo Código Florestal, coisa que país nenhum teve coragem de fazer, até porque, a maioria deles não tem floresta para preservar como o nosso país tem. O relatório do Deputado Paulo Piau, aprovado ontem, significou um avanço para o mundo rural, pois, concilia a produção com a preservação.

Para algumas ONGs o que fazemos não é suficiente. Mas, o Brasil de hoje é outro, é um país consciente e que preserva, mas que quer e que precisa produzir para se desenvolver e dar dignidade a milhares de pessoas que ainda vivem na pobreza e não tem a oportunidade de comer proteína todos os dias. Será mesmo que necessitamos ampliar ainda mais essa reserva florestal? Ou devemos nos concentrar em aproveitar bem e com menor impacto possível o que já temos aberto? Ou devemos tirar milhares de hectares em produção para contentar ONGs que não plantam uma árvore sequer em seu país? A resposta para essas perguntas começou com a aprovação do novo Código Florestal, agora o que temos a fazer, é esperar a resposta maior da nossa Presidenta, não vetando o que foi aprovado ontem.

sonoticias.com.br/
Glauber Silveira é presidente da Aprosoja Brasil

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